Revisitar a obra de Gérard Castello-Lopes é voltar a olhar para Portugal e para o mundo dos anos 50 e 60 mas, também é, olhar já com uma distância crítica para as imagens que produziu a partir dos anos 90.
Na sua obra tudo parece ter-se preparado para ser fotografado. Castello-Lopes examina com minúcia a realidade atento a todos os sinais e olha o mundo não como este é, mas como ele o quer ver, como se uma misteriosa ordem estivesse à espera deste seu olhar para ser reconhecida e revelada.
Estas imagens só estão verdadeiramente completas quando suspendemos o nosso olhar cúmplice sobre elas. Em cada uma está inscrito não só um vestígio daquilo que ficou de fora do visor da Leica, como também a delicada presença do momento que a antecedeu e do momento que lhe sucedeu.
Em qualquer umas destas fotografias existe sempre um elemento, por mais subtil, que leva a imagem do plano histórico do documento ao plano ficcional da narrativa. E são precisamente estes elementos, que parecem dirigir-se individualmente a cada um de nós, que tornam também a fotografia diferente para cada um, ampliando a nossa capacidade de fantasiar e efabular.
O fotógrafo, com a mesma argúcia com que manipula o espaço e o tempo, consegue fazer-nos esquecer que entre nós e a realidade se suspende sempre um filtro que é o seu olhar e, por isso, somos ingenuamente levados a pensar que teríamos olhado da mesma maneira, visto as mesmas coisas e enquadrado do mesmo modo.
Gérard Castello-Lopes vai assim domesticando o visível, forçando a fotografia a tornar-se imagem e desviando-a da vulgaridade do real para lhe sobrepor a originalidade do seu olhar. Mais do que metonínima, a sua fotografia é metáfora.
Nasceu em Vichy, em Agosto de 1925. Viveu em Lisboa, Cascais, Estrasburgo e Paris.
Licenciado em Economia, foi profissional de cinema, fotógrafo e crítico. Apaixonado por música – foi um dos fundadores do Hot Club de Portugal em 1948 – começou a fotografar em 1956 e desenvolveu, a partir de então, um percurso artístico dos mais relevantes no âmbito da fotografia portuguesa, sendo sem dúvida um dos poucos fotógrafos desta geração com maior visibilidade e reconhecimento nacional e internacional.
A sua obra fotográfica seria somente conhecida e divulgada no início da década de 80, através da galeria Ether em Lisboa e, a partir desta altura, foi regularmente exposta em Portugal e no estrangeiro. O seu trabalho foi ainda objecto de duas grandes exposições retrospectivas: “Oui/Non”, no Centro Cultural de Belém (Lisboa, 2004) e “Aparições”, no espaço “BES Arte & Finança” (Lisboa, 2011) e na Fondation Calouste Gulbenkian (Paris, 2012).
Está representado em diversas colecções nacionais e internacionais e expôs de forma regular em exposições individuais e colectivas.
Morreu em Paris a 12 de fevereiro de 2011.
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